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  • Vanessa Moura

GRAÇAS A COMUNIDADE




Esse post contém mais detalhes do meet up, mas também tem vídeo no canal!



Eu, Vanessa, vim de Osasco e cresci em um bairro perigoso, que estava constantemente em pé de guerra entre a comunidade e a polícia, tudo isso por conta do "combate" ao tráfico de drogas que rola em toda periferia. Sem contar que todos os dias nos deparávamos com notícias de estupradores a solta, mas o que mais me marcava era saber que outras crianças que estudaram e cresceram comigo, foram mortas no percurso, seja pela polícia, seja pelo tráfico. Sem ter a chance de trilhar o seu caminho.


A minha mãe era quem bancava a casa, trabalhando o dia todo como empregada doméstica, então, quem cuidava de mim era a minha avó. Por esse motivo eu tinha uma vida limitada a permanecer mais tempo dentro de casa, como numa pandemia, pois minha mãe e avó temiam pela minha segurança. Mas eu ainda vejo que eu fui privilegiada por ter tido segurança, um teto, alimento e "incentivo" a estudar para então, tentar sair daquela situação e ter um futuro diferente. O que nem todas as outras crianças que cresceram comigo tiveram...


Eu venho de uma família humilde, a maioria dos meus parentes veiram do nordeste do Brasil tentar uma vida melhor em São Paulo, longe da seca, mas boa parte desses familiares não eram totalmente alfabetizada, inclusive, eu quem alfabetizei a minha mãe corretamente.


Mas apesar da vida ter tirado a oportunidade da minha mãe e avó de estudarem, elas me encorajavam a fazer o contrário, pois só quem sofre com a falta de acesso a educação entende a diferença que isso faz na sua jornada de integração a sociedade.



E eu cresci com o espírito e ideia de que o coletivo pode salvar vidas e o conhecimento liberta. Afinal, depois que ganhei meu primeiro computador (presente do meu pai, montado com peças da Santa Ifigênia) e a internet discada ilimitada ficou disponível em meu bairro, eu me apeguei muito a fóruns, blogs e consequentemente comunidades no Orkut de assuntos do meu interesse, com isso ganhei diversos amigos de diversos lugares do Brasil, que mesmo longe, nos identificávamos pelas experiências e visões que compartilhávamos. Aquele foi um conceito apresentado a mim, que ao decorrer da minha jornada profissional, eu pude notar os mesmos padrões em diversos outros lugares. Hoje eu sou devota desse espírito colaborativo e tenho a tendência a doar meu tempo livre a ajudar a comunidade, pois a mesma me salvou diversas vezes, por diversos motivos e situações.


Se você tem um interesse em qualquer coisa, pode ter certeza que já existe alguma comunidade, em algum lugar do mundo, constituída por pessoas com o mesmo interesse. É incrível o trabalho em equipe que muitas dessas comunidades exercem.

Eu provavelmente teria tido o mesmo destino que a minha mãe, mulher nordestina, mãe solo, que trabalha como faxineira, pois infelizmente vivemos um cenário onde nem todos tem acesso a educação, entretenimento e por consequência, temos a disparidade sócio-econômica que vemos como cenário todo esse tempo.

Mas mesmo com todas as dificuldades em ser uma mulher, neurodivergente, vindo da periferia... eu sempre tive resiliência em nunca desistir. Pois eu tive exemplos de pessoas fortes que de alguma forma me derem forças.


Eu lutei pelo meu lugar em um mundo que não é adaptado a todos, mas sozinha eu não chegaria em lugar algum.

E se tem uma coisa que me ajudou nesses anos, até mesmo pelo meu auto-conhecimento, foi entender meu lugar no mundo, meus privilégios, política, sociedade, economia, história e até psicologia... conhecimento que nem todo mundo tem acesso (por um motivo óbvio) mas que faz uma diferença enorme para aqueles que querem mudar de vida e fazer a diferença no mundo.



Eu mudei primeiramente a minha vida, lutei contra todas as expectativas que tinham sobre mim: que eu iria fracassar. Eu ouvi isso dentro da minha própria família, dentro da escola, dentro da faculdade, entre as pessoas de círculos sociais... Eu estava no cenário perfeito para desistir, que é o que diversas outras pessoas se encontram em algum momento da vida e ainda tem o fator da sociedade em si que já aponta falhas, mas não dá soluções e nem oportunidades.


Ter entrado em contato com pessoas semelhantes a mim, com histórias parecidas e inspiradoras, com propósitos alinhados com o que eu quero pro mundo, isso me deu mais forças ainda. Saber que não se está só em uma jornada e que tem pessoas com a mesma vontade de revolucionar, é quando você percebe a força que uma comunidade pode ter.


Uma comunidade é como um formigueiro, somos todos operários, o que cada um pode contribuir, por menor que seja, ajuda a manter o formigueiro em ordem e em expansão.

Em todos esses anos de estudos e muito trabalho, eu enfrentei todo o tipo de dúvida, erro, questionamentos, frustrações e na maior parte deles, eu recorri ao peer-review, ou seja, pedir ajuda intelectual para outras pessoas na internet, seja diretamente ou perguntando publicamente. E na maior parte das vezes eu encontrei ajuda e uma solução, seja por YouTube, Reddit, LinkedIn, blogs, Twitter, Instagram, Facebook... E o que mais me fascina em tudo é o que levam as pessoas a compartilharem algo tão complexo que provavelmente custou caro ter alcançado aquela habilidade ou que pode ter demorado dias para encontrar uma solução. Em um mundo onde muita gente acredita na meritocracia, reter conhecimento é uma forma de impor limites de classes, pois as pessoas não entendem que gratidão gera mais gratidão e que uma mão amiga ajuda a abrir portas e reter informação é fechar elas.



As vezes compartilhamos uma informação que é banal para nós, mas que acaba impactando a vida de alguém que não tinha aquele conhecimento. E esse é o ponto que mais vem me motivando em aprender melhor minha função como líder de comunidade, de não ser apenas uma pessoa com muitos números em um perfil, mas uma pessoa que se importa integralmente em mudar a situação para que um dia tenhamos igualdade. Mas a realização de saber que alguém conseguiu o trabalho que queria, hoje tem uma carreira e consegue se sustentar, sustentar a família e que possivelmente uma palavra de incentivo ou direcionamento contribuíram de alguma forma para a realização daquela meta não tem preço. É uma sensação de que você realmente é um revolucionário, mesmo parecendo pouco de longe.


Uma das minhas vontades era a de sentar em uma mesa de um boteco com uma galera da comunidade que eu interajo e principalmente aqueles que estão envolvidos em projetos sociais ou que fazem o trabalho que eu aspiro em fazer, que é realmente ajudar a galera da periferia a chegarem em postos onde a sociedade não quer que eles cheguem, pois eu acredito fielmente que uma sociedade sem desigualdade é o paraíso que tanto falam em todas as religiões. Mas por enquanto vivemos num inferno de desigualdade.


Eu e a Letícia Coelho @EngineerRabbit no Twitter

Com essa vontade em mente, com uma viagem ao Brasil se aproximando, eu lancei essa idéia no Twitter, mas como eu tenho a mente hiperativa, eu tenho milhares de idéias o tempo todo e nunca achei que algo que eu penso, vai de fato dar certo. Mas começou pela galera que me segue no Twitter gostando da idéia e quando eu fui ver, eu estava em um chat com a Pati que faz parte do Feministech e a Lari que trabalha atualmente como Community Manager na GitHub Education cogitando o assunto e mostrando interesse em ajudar.


Na thread da conversa sobre a vontade de organizar um meet up, algumas pessoas vieram conversar comigo por email, inclusive o Magalu ofereceu o espaço deles para convidar algumas pessoas e fazer o meet up. Mas desse ponto em diante que eu vi que não ia ser apenas um meet up...


Tati Quebra Layout

Depois disso, a Tati junto com a Carol que trabalham na Zup entraram em contato comigo para oferecer o espaço do escritório deles para organizar o meet up e por acomodar mais pessoas, fechamos com a Zup.



Eu comecei a convidar pessoas que eu tinha interesse em conversar e conhecer o propósito das comunidades, poder tocar em assuntos que hoje impactam a vida de dezenas de pessoas que querem integrar a área de tecnologia e aproveitar o espaço e convidar empresas a ouvirem essas histórias e trabalhar com a comunidade pública.


Dinâmica do meet up


A minha intenção era de ir para um boteco, onde todo mundo podia conversar com todo mundo sem ter que ficar correndo preocupado com tempo, com transmissão, mas eu acho que no final das contas, saiu bem legal, o que me deixou meio chateada foi o tempo que foi corrido e eu sei que essas pessoas tem tanto para falar, mas fiquei extremamente honrada de ter a presença e principalmente colaboração e apoio de cada uma delas.


Não vou abordar muito o que foi falado, afinal, quero que vocês assistam, então. se a descrição ficou meio vaga, é proposital.



Tentamos dividir essas duas horas de transmissão em "blocos" com 3 convidados por vez, não vou entrar em muito detalhe sobre o que foi abordado, pois acho que vale a pena assistir a live!



Então no primeiro bloco tivemos a honra de ouvir o Roberson que faz parte do PerifaCode e compartilhou sua história de como conseguiu se alocar e seus ideais de capacitar pessoas da periferia, além d ter explicado o propósito do PerifaCode. E graças a ele, por intermédio do contato direto com a Vindi (que é uma plataforma de pagamento online e cobrança recorrente e também um dos nossos apoiadores) conseguimos até sortear uma Alexa para uma das pessoas presentes no meet up. Muito chique né? :D


Sem contar que iniciativas da galera da comunidade como PerifaCode, QuebraDev, PerifaCon, Programação Dinâmica, AfroPython, TecnoGuetto e dentre outros não apenas me inspiraram em querer iniciar esse encontro, como são a porta de entrada e incentivo a pessoas marginalizadas em se integrar e alocar dentro do mercado de tecnologia. É de extrema importância dar espaço a todas as minorias, para que elas se sintam bem recebidas e tenham as mesmas oportunidades, a sociedade precisa alcançar a igualdade sócio-econômico, o que não estamos tão perto na realidade. E estas iniciativas não governamentais carregam nas costas diversas vidas, afinal, se não for o povo pelo o povo, quem será?



A Kamila está por trás da organização das comunidades Devs JAvaGirl, Womakerscode e também do PerifaCode e te falar, ver uma mulher tão engajada na comunidade, que saiu da perifa e está conquistando o que é merecido, é muito inspirador!



E minha outra presença ilustre é a Raissa, que veio lá de Sorocaba e contribuiu com sua história e também pudemos ouvir suas experiências no começo de sua carreira e aborda brevemente sobre seu trabalho em uma pequena EduTech sem fins lucrativos.


Uma das minhas preocupações era o de poder transmitir ao vivo para quem não podia comparecer em pessoa, por conta do espaço limitado. E no último segundo, quando estava desistindo de transmitir, por conta de diversos impecilhos, um anjo de luz chamada Glaucia que é DevRel na Microsoft, nos colocou em contato com o Victor da Microsoft Reactor e eles toparam ajudar a gente com essa transmissão. Foi uma loucura! Mas não podia deixar de agradecer a Glaucia por ter tirado do seu tempo e feito essas conexões, sem contar que a Glaucia também colabora muito com a comunidade.



Pra quem não conhece, o